The Economy as Moral and Political Science (portuguese)
Autor: Jannisthomas • May 10, 2018 • 2,699 Words (11 Pages) • 882 Views
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Segundo Horkheimer, a posição preeminente do interesse pessoal na sociedade capitalista acantona a razão num papel bastante subalterno; reduzida a ser tão-somente um instrumento utilizado tendo em vista um objetivo predeterminado, ela não tem mais nada a dizer sobre quais deveriam ser as finalidades da ação humana.
Temos aqui, portanto, algumas versões precoces da tese de Hirsh sobre a “erosão do patrimônio moral”.
É fácil compreender porque essa ideia será quase inteiramente esquecida no intervalo de trinta anos entre Schumpeter-Horkheimer, por um lado, e Hirsh, por outro. Esse intervalo, com efeito, corresponde nos países ocidentais a um período excepcional de crescimento contínuo e de estabilidade política. Remanejada pela política keynesiana e pelas reformas do Estado de bem-estar, a sociedade de mercado parece então se livrar de suas tendências autodestruidoras, e engendrar, mais uma vez, se não a “suavidade”, pelo menos uma grande confiança em sua própria capacidade de resolver os problemas que encontra em sua marcha.
Eclipse da tese do suave comércio depois do século XVIII
O eclipse da tese do suave comércio se explica mais simplesmente pela Revolução Industrial (...) podemos ainda encontrar aqui e ali traços da antiga ideia de que a coesão da sociedade civil é garantida, em ampla medida, pela densa rede de relações e obrigações mútuas criadas pelo mercado e por sua expansão, sendo essa, por sua vez, ligada a uma divisão do trabalho cada vez mais intensa.
“É principalmente [a divisão do trabalho], escreve Durkheim (em seu livro A divisão do trabalho social), que mantém unidos os agregados sociais do tipo superior.”(...) O papel decisivo é desempenhado pelas numerosas e frequentemente não desejadas relações que se tecem entre os participantes das transações comerciais e dos compromissos contratuais. (...) “Se a divisão do trabalho produz a solidariedade, não é somente porque faz de cada indivíduo um agente de troca, como dizem os economistas; é porque cria entre os homens todo um sistema de direitos e de deveres que os ligam uns aos outros de modo duradouro”. (...) a ideia de que laços sociais podem ser introduzidos nas transações econômicas.
Georg Simmel. Ninguém denunciou mais fortemente do que ele a alienação produzida pelo dinheiro; mas, além disso, Simmel sublinha também o papel positivo que podem desempenhar certos conflitos engendrados pela sociedade moderna, favorecendo a integração social. É assim que ele elogia a concorrência, mecanismo que está na origem da empatia e que cria laços sociais sólidos. (...) O pensamento de Simmel aproxima-se, nesse ponto, do de Durkheim. Também ele descobre na estrutura e nas instituições da sociedade capitalista um equivalente funcional dos laços simples, como os costumes e a religião, que teriam garantido a coesão da sociedade tradicional. (...) a sociedade de mercado – apesar de tudo – concorre mais para a integração social do que para a desintegração.
(...) Com efeito, este reúne, na virada do século, um importante grupo de sociólogos – Baldwin, Mead, Colley, Ross e o jovem Dewey – que, menos preocupados que seus colegas europeus com os problemas de dissolução social, buscam simplesmente compreender como a sociedade chega ao grau de coesão que manifesta. (...) para explicar o que eles chamam de “controle social” – esses sociólogos atribuem um papel chave às relações imediatas (face to face) e de grupos restritos, bem como à capacidade de diferentes grupos sociais de se imporem o respeito a diversas normas e regras.
(...) os economistas favoráveis ao mecanismo de mercado têm as mãos atadas: não podem invocar o argumento da contribuição do mercado à integração social simplesmente porque o argumento só vale para o mercado ideal de concorrência perfeita (...)
A tese dos entraves feudais
Se abstrairmos essa evolução recentíssima, a tese do suave comércio – tão altamente apreciada no século XVIII – terá por assim dizer desaparecido da paisagem intelectual durante o período prolongado no curso do qual a sociedade capitalista atingiu seu pleno florescimento, assistindo ao mesmo tempo a elaboração das apreciações bem mais negativas dos efeitos sociais e morais do mercado. Mas os caminhos da ideologia são sutis: se olharmos mais perto, constataremos que, em última instância, a tese do suave comércio reaparece nos séculos XIX e XX sob uma nova forma, tornando-se parte integrante de uma importante crítica de algumas sociedades capitalistas.
(...) toda concordam no seguinte ponto: em bom número de casos, a penetração capitalista teve como efeito desarticular a sociedade em pauta, e isso porque essa penetração foi excessivamente parcial e tímida, deixando subsistir elementos essenciais da ordem social anterior. Esses elementos – diferentemente denominados como “resíduos”, “entraves”, “restos” ou “vestígios” feudais – teriam conservado, nas sociedades em questão, uma influência e um poder consideráveis. Escuta-se dizer, com frequência, nas sociedades acusadas de não terem “liquidado” os resíduos feudais.
Se a tese dos entraves feudais é a antítese daquela da autodestruição, não é difícil mostrar que está próxima da tese do suave comércio. Com efeito, ela afirma implicitamente que tudo marcharia às mil maravilhas apenas se o comércio, o mercado, o capitalismo tivessem condições de florescer livremente, apenas se eles não sofressem o obstáculo das instituições e atitudes pré-capitalistas. (...) E se, de fato, a suavidade não se instaura nem pela primeira nem pela segunda via, isso decorre do fato de que forças hostis, herdadas de formações sociais ultrapassadas, continuam suficientemente poderosas para se oporem teimosamente ao seu advento.
Ainda que em contradição, as duas teses (a da autodestruição e a dos entraves feudais) remontam à obra de Karl Marx. (...) Já sabemos que Marx contribui para a tese da autodestruição através de sua insistência nas propriedades corrosivas do capitalismo. Do mesmo modo, pressente-se em Marx a tese dos entraves feudais quando ele escreve, no prefácio de O Capital, que – ao contrário da Inglaterra – a Alemanha não sofre somente de todos os males modernos implicados pela expansão capitalista, mas sofre também de uma “longa série de males hereditários provenientes da persistência de modos de produção velhos e superados, com suas sequelas de relações políticas e sociais mal adaptadas ao nosso tempo”. (...) sociedades em que a expansão capitalista
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