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Um Corpo Que Cai Aos Olhos De Charles Peirce

Autor:   •  December 19, 2017  •  2,764 Words (12 Pages)  •  786 Views

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4 CONCEITOS SEMIÓTICOS QUE SERÃO UTILIZADOS

Do ponto de vista cinematográfico, a obra de Hitchcock é um deleite: sua forma e narrativa são incrivelmente belos. Mas, com a ajuda da Semiótica de Peirce, o filme se revela ainda mais complexo e belo, principalmente pelas características que carrega.

Para começar o entendimento dos conceitos que serão aqui utilizados, serão introduzidas as definições de signo e das relações que este exerce com seu objeto, nos diversos níveis delas. De acordo com Santaella:

Um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira, determine naquela mente algo que é mediatamente devido ao objeto (SANTAELLA, 1983).

Signo é tudo que se percebe, que estimula os sentidos. Tudo que vemos, tudo que tocamos, ouvimos, sentimos, é signo. Somos rodeados por eles e à todo momento estabelecemos processos comunicacionais com signos à nossa volta. Um signo representa sempre um objeto, podendo essa representação ocorrer de três formas diferentes: iconicamente, indicialmente ou simbólicamente.

As relações icônicas acontecem por sugestão. Podem ocorrer por semelhança, quando um signo é semelhante ao objeto que representa. Exemplos de ícones são fotos de pessoas, pois uma imagem da pessoa é uma representação fiel de suas qualidades. Outro aspecto das relações icônicas reside nas próprias qualidades do signo e também nas possibilidades inacessadas no momento da percepção. Portanto, um signo que representa iconicamente seu objeto pode possuir variás interpretações, além de possíveis objetos à que o signo pode se referir. Um outro exemplo, com as características citadas acima, seria um quadro de arte moderna, no qual podemos distinguir apenas algumas cores. Tal signo ficaria restrito, possivelmente, ao nível icônico.

A segunda forma de representação consiste em indicações. A maior parte dos processos comunicacionais que estabelecemos é realizada nessa esfera. Um índice é um signo que permite que identifiquemos o objeto por via de uma relação simples: isto é aquilo. Um exemplo dessa relação é visualizar em um quadro um objeto com um topo plano e quatro hastes abaixo desse topo, sobre o qual está algo. Dependendo da representação, pode-se aferir que tal objeto é uma mesa. Diferentemente dos ícones, os índices utilizam as qualidades para se referir à algo que pode estar dentro ou fora do signo. Assim sendo, as relações indiciais possuem dois níveis: indexicalidade interna, ou seja, as qualidades presentes no signo referenciam algo interno; indexicalidade externa, quando o signo indica algo externo à ele. Dentro das indexicalidades internas, exemplos seriam representações, em um quadro, de uma porta e de uma parede. Elas estão dentro do quadro e pode-se perceber ao que elas se referem sem necessidade de elementos externos. A indexicalidade externa diz respeito ao que está fora do signo, referenciando outros objetos. Aqui, é grande o papel do repertório da mente interpretadora. Santaella, ao definir este conceito, utiliza o exemplo de várias obras de arte de Henri Matisse:

Os traços indicam a energia do gesto do artista; o modo de compor traz as marcas de autoria de Matisse; as cores indicam o período diurno; as flores indicam a estação do ano, as maçãs indicam outras maçãs em um outro quadro [...] O interior também indica outras pinturas de interiores, muitas delas verdadeiros documentos de costumes e períodos históricos (SANTAELLA, 2004).

Através dessa explanação, percebe-se mais claramente que a indexicalidade externa diz respeito ao que o espectador já internalizou, ou seja, ao seu repertório. Esse aspecto da indexicalidade externa oferece suporte para ser compreendido o conceito de símbolo. As relações simbólicas dependem exclusivamente do repertório da mente interpretadora. O signo simboliza seu objeto em uma relação abstrata, que não é existente como a indicial, mas sim convencionada. Seguindo o exemplo de Santaella, símbolos na obra de Matisse seriam padrões e marcas do artista recorrentes em suas obras. As relações simbólicas são extremamente ricas e variantes, de indivíduo para indivíduo.

É importante ressaltar que o signo pode relacionar-se com o objeto através das três esferas, não necessariamente sendo exclusiva uma das relações. O processo comunicacional é mais eficiente quando o signo atua em diversos níveis, tanto fazendo sugestões, tanto simbolizando seu objeto de forma mais clara. E assim são as relações que serão estudadas posteriormente.

5 A SEMIÓTICA APLICADA À UM CORPO QUE CAI

Inicialmente, para uma análise precisa de Um Corpo que Cai, é necessário que sejam definidos os signos que serão estudados, além da mente interpretadora que será utilizada como intérprete. Sendo a mente interpretadora a do autor deste trabalho, os processos comunicacionais serão direcionados ao mesmo.

Em seguida, são definidas as relações comunicacionais que serão visitadas. Cenas em que o personagem de Stewart se relaciona com a de Novak, assim como a relação do protagonista com sua amiga, Midge Wood. A cena do pesadelo de Ferguson também será revisitada. Algumas outras cenas serão analisadas pontualmente para enriquecer o entendimento das cores objetivadas neste estudo, que serão: azul, verde, vermelho e amarelo. Como citado anteriormente, Mahnke estudou as relações que tendem a ser feitas com cores em processos comunicacionais. Através de seus estudos, Elliot e Niesta focaram-se no vermelho e os estudos que realizaram serão determinantes para o entendimento da importância da cor.

O azul escuro, cor que salta aos olhos logo no início do filme, está presente nas roupas do personagem de James Stewart quando este quase sofre um acidente, fato que o leva a temer alturas. Esta mesma cena está mergulhada em uma película azul. Na sequência do filme, o personagem continua vestindo trajes azuis, que o acompanharão durante quase toda a extensão da produção. Para alguém que não tenha visto o filme anteriormente, ou não possua o conhecimento de uma determinada convenção social, a cor azul nas cenas é um signo de caráter icônico. Retrata apenas as qualidades de um objeto, o próprio azul. Já para o autor, que assistiu o filme Um Corpo Que Cai algumas vezes, o azul possuí um caráter mais indicial-simbólico. A cor, além de indicar de forma externa o próprio personagem, simboliza o estado de espírito em que ele mergulha após o quase acidente

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